domingo, 27 de dezembro de 2009

ESTE EU DEVERIA TER POSTADO NO DIA 23

Não vou perder meu tempo falando do stress das compras de Natal. Disso, todo mundo vive esse mesmo horror todos os anos.

O que tenho a dizer hoje é que o ser humano tem a capacidade extraordinária de se adaptar às situações as mais bizarras. Por exemplo, a convivência com minha mãe de 190 anos exigiu de mim coisas inusitadas. Foi difícil no início, porém tenho hoje total controle sobre a comunicação verbal com ela.

É que a minha mãezinha não se faz de rogada nem um milímetro para substituir por outra a palavra da qual se esqueceu – e ela se esquece de tudo. Assim, juntando um pouco de mímica, leitura corporal, algum bom senso e muita oração, conseguimos nos entender perfeitamente.

Já sei, por exemplo, que relógio é, na verdade, o telefone celular e que quando ela quer saber as horas, pede pra dar uma olhada na panela da sala.

Acontece que ela resolveu cozinhar neste Natal. Minha mãe na cozinha pra fazer um mero ovo quente já é um caso de polícia. Imaginem toda uma ceia de Natal feita por ela. E auxiliada por mim, claro, porque nos últimos tempos ela me confunde ora com a irmã, ora com um valete, ora com um obstáculo qualquer.

Primeiro a lista de compras para a ceia. Escreve aí, ela ditou para o Valete (eu):

- Vinho branco, cerveja, vinho tinto...

É interessante como ela não troca nome de bebida alcoólica nenhuma. Continuando:

- Aquele negócio que dá sapinho (anotei Coca-cola), banha (anotei farinha de trigo), advogado (escrevi laranja), mosquiteiro (coloquei lá frango defumado). E assim por diante, fizemos uma boa lista sem dificuldade nenhuma.

Depois veio a pior fase pra mim. A fase dos “Maria Santíssima, onde foi que eu pus a berinjela?” (Só Nossa Senhora pra entender que ela estava procurando pela forma de bolo) e dos “ Jesus me dê paciência, ainda preciso bater as covas no ventilador!” (Deus sabe que ela precisava bater as claras na batedeira).

Para encurtar a conversa, vou direto ao ponto. Minha recaída se deu em duas fases, iniciando quando ela me mandou “pegar a negoça, enfiar no ar condicionado, e ir buscar o computador, senão morria de calor”. Obedeci. Peguei o arroz, coloquei no forno de microondas, e fui buscar o ventilador para colocar na cozinha.

A questão é que isso não me deprime muito, é o imenso amor que eu tenho pela minha mãezinha. O problema é quando ela percebe que me pediu barbante de cobrir torta e eu lhe dei o chantilly. Ahá, Misericórdia! Teima que te teima, viu? Acabei dando-lhe o rolo de barbante, que ela pegou e, perplexa, não sabia por que eu havia lhe dado uma coisa tão inútil. Aí eu me entupo de cloxazolam.

A imagem foi surrupiada de SINGRAFS

PEDIDO DE DESCULPAS


Peço desculpas aos incansáveis e perseverantes visitantes deste blog por ter ficado tanto tempo sem atualizá-lo. Foi apenas uma recaída. Preguiça de postar, coisas da depressão. Mas agora estou de volta, espero que me perdoem e vou colocar os textos que deveriam ter sido postados nesses últimos dias, tá?
Agradeço a compreensão.

A foto foi surrupiada de André Rebouças